quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Gozo e Dor

Se estou contente, querida,
Com esta imensa ternura
De que me enche o teu amor?
- Não. Ai! não; falta-me a vida,
Sucumbe-me a alma à ventura:
O excesso do gozo é dor.

Dói-me a alma, sim; e a tristeza
Vaga, inerte e sem motivo,
No coração me poisou.
Absorto em tua beleza,
Não sei se morro ou se vivo,
Porque a vida me parou.

É que não há ser bastante
Para este gozar sem fim
Que me inunda o coração.
Tremo dele, e delirante
Sinto que se exaure em mim
Ou a vida - ou a razão.

Almeida Garret


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